Rehagro – Artigos Técnicos: Agrupamento de vacas leiteiras de acordo com características produtivas

Agrupar vacas leiteiras por características de produção é prática comum nas propriedades do Brasil. Porém, a grande maioria dos produtores e técnicos utiliza um único critério para isso: o volume de leite que as vacas produzem. As vacas, por sua vez, possuem outras particularidades no decorrer da lactação, como requerimentos nutricionais, exigências reprodutivas, produtivas e sanitárias.

Alguns pesquisadores estudaram e dividiram o ciclo de produção das vacas em lactação em períodos, de acordo com as diferentes características de cada momento. Para cada período, diferentes estratégias de manejo devem ser utilizadas. Assim, características negativas de cada fase podem ser minimizadas e as positivas, maximizadas.

Figura 1 – Períodos do ciclo produtivo das vacas em lactação.

A figura acima ilustra muito bem os quatro períodos do ciclo produtivo de uma vaca leiteira. Ela mostra: a curva de ingestão de matéria seca, que é o quanto a vaca está consumindo de alimento; a curva de lactação ou produção de leite diária; o crescimento fetal ou gestação da vaca; e os ganhos e perdas de peso, correlacionados com redução ou aumento de escore de condição corporal.

Para compreender melhor, segue abaixo o detalhamento de cada período:

1. PERÍODO SECO:

O período seco é o momento de preparação para a próxima lactação. Um manejo ruim nessa fase pode impactar negativamente na lactação subsequente. Vacas que sofrem algum tipo de estresse no período seco não iniciam bem a lactação, estando mais propícias à incidência de distúrbios como: cetose clínica e subclínica, retenção de placenta, deslocamento de abomaso, metrite, mastite, parto difícil e febre do leite.

A figura 1 demonstra um período seco de aproximadamente 60 dias. Esse intervalo de tempo é o período médio recomendado para que haja a recuperação da glândula mamária e renovação das células epiteliais produtoras de leite. Períodos menores que 60 dias, em torno de 30 a 40 dias, que é o período mínimo para a glândula mamaria se recuperar totalmente, não toleram erros de manejo. É fundamental atenção para evitar falhas de anotação que provoquem um período de descanso inferior a 30 dias, o que comprometerá a próxima lactação, como também a qualidade do colostro, elevando as taxas de mortalidade das bezerras recém-nascidas.

O critério principal de divisão de lotes no período seco é que as vacas com menos de 30 dias pré-parto sejam agrupadas e mantidas com dietas compostas pelos mesmos alimentos que serão fornecidos no pós-parto imediato, pois o rúmen necessita de pelo menos 20 dias para adaptação da microbiota ruminal. Vacas adaptadas às dietas de pré-parto tendem a ter menor incidência de problemas no parto ou pós-parto imediato. Isso é importante para reduzir o intervalo entre partos e estimular o consumo de alimentos, o que contribuirá para maior produção durante a lactação.

O Escore de Condição Corporal (ECC) ideal nesse período é de 3,5 a 3,75.

2. INICÍO DA LACTAÇÃO:

Após o parto, geralmente os animais tem dificuldades de atingir o consumo de alimento necessário para a produção de leite. A curva de lactação atinge seu ponto máximo antes da ingestão de matéria seca atingir. Dessa maneira, a exigência para a produção de leite é maior do que o que a vaca pode consumir, criando um déficit de energia disponível, chamado “balanço energético negativo”. Esse processo já ocorre antes mesmo do parto, devido à presença do bezerro no útero, ocupando muito espaço no abdômen, comprimindo o rúmen e impedindo a sua expansão dentro da cavidade abdominal. A partir do parto, a vaca pode atingir seu maior consumo de alimento, porém leva certo tempo para que o rúmen atinja a expansão necessária.

Conhecendo a dificuldade da vaca nesse momento, busca-se fornecer dietas mais energéticas e menos fibrosas, já que apesar de não consumirem grandes volumes, têm elevada exigência nutricional.

No inicio da lactação, não devem ser formuladas dietas com referência na produção de leite dos animais e sim no pico de lactação médio do rebanho. Isso porque é importante oferecer um desafio nutricional visando alcançar maior volume de leite a ser produzido pela vaca, induzir as funções reprodutivas e impedir maior perda de escore de condição corporal. Quanto maior for a perda de escore de condição corporal nas primeiras semanas pós-parto, menor é a eficiência reprodutiva deste animal, conforme a tabela 1 a seguir.

Tabela 1 – Relação entre a perda de condição corporal nas primeiras semanas pós-parto e eficiência reprodutiva. (STAPLES et. al. 1990)

3. LACTAÇÃO MÉDIA:

Esse período representa o momento de maior produção de leite, quando o maior consumo de matéria seca foi atingido. Assim, o balanço energético negativo já não deve existir mais. A partir do momento que começa a ganhar peso, ela tende a retornar suas funções reprodutivas e já pode ser inseminada ou coberta.

A estratégia de manejo adotada para esse período deve ser direcionada para alcançar e manter a maior produção de leite. Além disso, deve objetivar ganho de peso e concepção.

Um bom observador de vacas deve saber identificar animais com tendência a ganhar peso. Geralmente são animais que direcionam a energia fornecida pela dieta para acúmulo de gordura, e não para produção de leite. São vacas que tendem a produzir menos leite que as demais vacas no mesmo período de lactação. Esses animais devem ser direcionados para lotes que consomem dietas mais fibrosas.

4. FINAL DA LACTAÇÃO:

No final da lactação, a vaca está produzindo pouco, consome altos volumes de alimento e o balanço energético é totalmente positivo, ou seja, a vaca está ganhando peso. Nesse período, já não se espera aumento da produção de leite. A meta é que as vacas estejam com prenhez avançada. Esse período é ideal para atingir e manter a condição corporal à secagem e ao parto. A meta de escore de condição corporal é de 3,0 a 3,5.
O manejo adotado no final da lactação deve preparar a vaca para a secagem. Esse é o momento de economia de dieta, com maior concentração de fibra e menores volumes de concentrado, apenas para manutenção das necessidades fisiológicas da vaca. Nesse momento, a tendência é que elas ganhem peso, e vacas gordas e pesadas tendem a reduzir o consumo de matéria seca no pós-parto, devido ao excesso de reservas corporais disponíveis.

Estratégia de agrupamento

Depois de conhecer todas as variáveis que envolvem o ciclo produtivo das vacas leiteiras, resta saber como agrupá-las em lotes de acordo com suas necessidades.

Figura 2 – Modelo esquemático de um agrupamento de vacas.

A figura 2 exemplifica um agrupamento de vacas leiteiras. As setas indicam que os animais podem ser agrupados de acordo com seu período de lactação, produção de leite, ganho de peso, momento do parto e secagem. O conteúdo das dietas nos lotes pode ser definido como: dietas com alta, intermediária ou baixa energia (níveis de concentrado utilizados), e dietas de alta, intermediária ou baixa fibra (quantidade de volumoso).

Conclusões

• Vacas especiais necessitam de cuidados especiais;
• Observe bem as vacas e busque agrupá-las de acordo com suas necessidades;
• Cuidado com vacas muito gordas e vacas muito magras no momento da secagem;
• Maximize o consumo de matéria seca de suas vacas.

Rehagro – Artigos Técnicos: Agrupamento de vacas leiteiras de acordo com características produtivas.

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